Sunday, May 13, 2007

No princípio era o verbo...


É difícil de apagar as recordações, residem como um vestido no nosso guarda-roupa, que quando menos esperamos aparecem entre os outros vestidos novos. Podes nem notar e vestimo-las e a nossa capa revela-se, faz-nos transparecer a imagem de um homem já vivido.

Uma marca na cara que faz com que cada gesto nos faça lembrar e recordar o tempo já vivido, o dia em que bateste na quina do móvel.

É tão simples...encontrar um objecto que nos faça lembrar tudo o que já vivemos. É difícil apagar as lembranças, os momentos, os pensamentos... Hoje, aqui, senti a falta delas...não das recordações mas do tempo onde eu criava as personagens que eu queria e todas elas faziam parte de um romance escrito por mim.

É um estereótipo nebuloso...amar depois de amar-te, olhar um objecto depois de o decifrares, descobrir infinitésimas etapas sucessivas de um qualquer conhecimento, depois de te conhecer. Cada bocado da tua matéria, da tua luz e das tuas formas, leva-me a expressar o melhor de mim própria.

É apenas um acto de continuidade, um salto. É em suma um encontro...inesperado, revelador. Cada vez que olho é uma sucessão desses encontros, em que cada um deles continua o precedente.

Mesmo quando fico algum tempo sem te olhar, é como se te tivesse deixado há um instante. O encontro não é reconhecer uma identidade ou uma semelhança...é conseguir ver para além de um objecto, de um candeeiro. Uma realidade, que duas pessoas conseguem ver de maneira diferente...no mesmo candeeiro. No encontro, nós e o outro descobrimos que estamos lado a lado a admirar a luz que ele transmite.

O inexprimível conforto que me trazes, sem ponderar sentimentos, as minhas palavras, os meus verbos tal como é a palha com o trigo, guardando apenas o que vale a pena guardar e soprando o resto pelos ares, com o sopro da benevolência.

Consigo converter esta imagem em harmonia e ouvir-te murmurar: "Espera e Confia!"

É continuar...qualquer coisa que começámos!!

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